segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

What the **** is money

Percebe-se pelo vídeo anterior como se chegou a esta crise: concessão de crédito, a pessoas com alto risco de incumprimento, para a aquisição de casas cujo valor estava em queda.

Mas quantos unemployed black men sitting on a crumbling porch somewhere in alabama with a string vest terão de contraír e não pagar empréstimos para se gerar um buraco suficientemente grande para afundar o mercado financeiro Mundial e levar a Islândia à bancarrota.

Estaria assim tantos milhões empatados em casas de madeira???

Tendemos a pensar o dinheiro como uma coisa da natureza, sujeita ao princípio de Lavoisier: nada se cria, nada se perde, tudo se transforma... o que não é de todo verdade.

O que é afinal o dinheiro... como se cria, como se perde e como se transforma.

As resposta estão no vídeo que se segue:



Relatos da Crise

Face à perspectiva escatológica que se abateu sobre a conjuntura económica global sentimo-nos compelidos a iniciar, a partir de hoje, uma nova rubrica no nosso Odemiragem.

Sob o título de Era uma Vez a Crise vamos procurar aqui ilustrar os porquês, o como, o quanto, o até quando desta crise internacional, num estilo simples, acessível e, porque se tratam de coisas muito sérias, com a necessária dose de humor.

Assim, inspirado por esse marco da nossa infância que foram a séries Il était une fois... la vie, l'espace etc... poderão acompanhar a partir de hoje, em exclusivo no Odemiragem: Era uma vez a crise.

Aos visitantes do blob e a todos os que nos acompanham por RSS feed aqui fica o primeiro de uma série de vídeos:

(John Bird e John Fortune - The subprime crisis - legendado em castelhano)



quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Até a baracka obana!!!

Ontem partilhei com alguns amigos e, talvez, com muita gente por todo o Mundo a redescoberta da esperança.

Há 8 anos desesperámos com a invasão do Iraque... depois revoltámo-nos com Guantânamo e com as fotos da prisão de
Abu Ghraib... as negociatas sujas da
ENRON e outras manobras cash and carry da dupla Cheney&Rumsfeld lda.... chegou ao ponto em que nos resignámos com fanatismo bronco da administração W. Bush não esperando nada de bom daquele lado do atlântico, sendo apenas surpreendidos pela negativa... refugiámo-nos na sátira de filmes como Team America ou até no histerismo documental de Michael Moore para encontrar algum alívio e compreensão.

Mas ontem, depois de ver os Cammons a buzinar que nem tugas-no-Marquês-de-Pombal e a celebrar a pé pelas ruas, como se nessa noite se anunciasse a chegada do messias... que alegria!!! Soltou-se-me uma cólica de cinismo e deseperança de 8 anos e, uma emoção esquecida reapareceu - esperança nos EUA e nos destinos do Mundo.

Esta vitória abanou muita coisa, mas com este discurso - como bem disse a Rosa - até a Baracka Obana!!!


sexta-feira, 4 de julho de 2008

Taxar as mais valias petrolíferas... então e as outras!!!

Apesar de não ser um grande consumidor de produtos petrolíferos foi com grande satisfação que ouvi o nosso Primeiro-ministro anunciar uma nova taxa, que cobrará às indústrias petrolíferas as mais-valias colhidas (por elas) com a valorização das reservas petrolíferas. De facto, como explicou o PM, não é justo que uma empresa colha dividendos da valorização da sua matéria-prima quando os consumidores suportam com dificuldade o aumento do preço dos combustíveis. O princípio é simples e justo. Às empresas caberá a margem de lucro decorrente da sua actividade - a extracção, refinação, distribuição - mas não a mais-valia decorrente da especulação sobre o bem escasso que é o petróleo.

O território nacional é também um bem escasso, cujas reservas são bem conhecidas (cerca de 92 mil quilómetros quadrados). É neste recurso escasso que temos de encontrar espaço para instalar as actividades económicas e a habitação, salvaguardando os valores ambientais. Sendo um bem escasso e imperecível no curto prazo, o território é naturalmente alvo de especulação.


Se no caso do petróleo o valor depende da procura (para consumo ou para investimentos financeiros) o valor do solo depende sobretudo do uso que se lhe pode dar - que é o mesmo que dizer, depende dos frutos que dele se podem colher. Esses frutos são decididos pelo Estado, através da afectação do uso do solo assinalada em PDM, e são, por ordem crescente de valor: informação estética e científica (p.ex. em zonas protegidas), madeira e cortiça, produtos agrícolas, habitações e hotéis. A diferença de valor entre estes "frutos" é abissal - p.ex. um terreno urbanizável vale facilmente 200 vezes mais do que um terreno agrícola.

Quem jogou ao monopólio sabe que uma rua vale muito mais se lá tiver casas e ainda mais se tiver um hotel construído... mas na especulação fundiária basta ter permissão para construir casas ou hotéis para daí se colherem imediatamente chorosas fortunas, sem ter de assentar um único tijolo.
Ora, tal como a Galp, um proprietário de terrenos agrícolas pode, sem mexer uma palha, ver o seu património valorizado em 20 000%, mas ao contrário desta, continuará isento de pagar qualquer taxa por essa mais-valia... bastando-lhe para tal reinvestir esse dinheiro caído do céu como que por milagre.

De uma certa forma o actual Estado de Direito Democrático concede fortunas aos proprietários de terrenos tal como El-Rei concedia rendas aos senhores feudais da idade média. Os terratenentes da idade média exploravam directamente os camponeses, hoje fazem-no indirectamente através dos bancos, que vão cobrando as prestações do empréstimo aos actuais "camponeses" - que decidiram comprar casa e nem imaginam que a seguir aos juros a maior fatia do seu empréstimo serve para pagar a mais-valia do "Senhor Feudal".

É caso para dizer, mais-valia não parar por aqui Sr. PM e estender a taxação destes lucros indevidos ao chão que todos pisamos... mas do qual apenas alguns fazem fortunas.

Duarte Sobral



PS: Quer saber como se fazem fortunas à custa do endividamento dos outros e os impactes económicos e territoriais que isto acarreta, pode descarregar aqui uma entrevista ao Eng.º Pedro Bingre, um verdadeiro especialista nestas matérias e a principal fonte de inspiração para este post.




terça-feira, 24 de junho de 2008

George Carlin (1937 – 2008)

Morreu o mestre do stand-up comedy político-corrosivo... os temas escolhidos, a elaborada argumentação, a crueza da linguagem e da forma de declamar do George Carlin fazem o Bruno Nogueira parecer um menino da catequese. Para quem não o conhece aqui ficam algumas das suas "palestras" que, nos tempos de faculdade, serviam de mote para longas tertúlias estudantis:

7 palavra proibidas em televisão:



movimentos pró-vida (contra a legalização do aborto):



religião:




Nas suas próprias palavras: Thanks to our country's fear of death I don't need to die... I'll pass away.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Coisa mais deoLinda...

Dei com o Fado do Toninho num zapping abençoado e... Ehh lá!!!! Que voz é esta?
Vim a descobrir mais tarde que A Voz é da Ana Bacalhau, que já nos concertos de Lupanar me arrepiava os pelinhos todos. Mas agora, num formato experimental menos tripalhoco, de matriz fadisteira, mão na anca e tudo, em narrativas aguçadas que cantam retratos de Lisboa e de outras aldeias menos engarrafadas, cristalizando um espírito romântico que eu pensava já pertencer à história... puxaram-me o tapete com estas lindas cantigas e caí rendido aos seus encantos.

Ora vejam, oiçam e digam lá se não é linda a Deolinda!!!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Rotundas!!! Em que sentido?

Ouvi há uns anos um reputado especialista, numa aula de transportes, dizer que as auto-estradas para o interior, em vez de lá levarem o desenvolvimento, faziam com que as pessoas saíssem mais rapidamente para o litoral. Achei fascinante como, numa curta frase, o catedrático tinha virado o bico ao prego e deitado por terra uma convicção generalizada. Além disso, a ironia do destino dos territórios em processo de despovoamento, processo esse que se vê agravado pelas novas acessibilidades - que durante tanto tempo reclamaram, como forma de gerar desenvolvimento e inverter esta tendência de perda - assombrou-me.

Foi com algum espanto que, numa recente viagem de Odemira para Sines, me deparei com uma série de novas rotundas que desafiaram tudo o que eu achava saber sobre a matéria.
A primeira delas pareceu-me um pouco desviada do eixo da estrada… mas enfim, há contingências compreensíveis, como um sobreiro que não se pode deitar abaixo - pode ter sido isso - pensei. Mas à segunda rotunda nem mexi o guiador, foi vê-la passar à minha esquerda… e aí fez-se luz!!! As rotundas, símbolos do congestionamento automóvel – o que neste país é sinónimo de desenvolvimento – foram feitas à medida de quem viaja para Norte. Recordei imediatamente a frase do professor Viegas e, sem que o conseguisse evitar, imaginei que esta concepção única das rotundas era um presente envenenado das Estradas de Portugal que visava acelerar o despovoamento do concelho.

Depois de muito reflectir confirmei que tudo foi propositado mas, no entanto, abandonei a teoria da conspiração, porque percebi a genialidade por trás desta solução de design heterodoxa, ora vejamos:
  • Quem viaja ao fim-de-semana para Lisboa sai, naturalmente, apressado na sexta à tarde em direcção a Norte e as rotundas, assim, facilitam-lhe o trajecto… o condutor pode até atravessá-las enquanto escreve um sms a avisar os amigos que está a caminho, e nem dar conta que passou por uma rotunda;
  • Já no sentido inverso os citadinos acelerados, que desabam sobre a Zambujeira por alturas do Festival Sudoeste, encontram uma série de obstáculos rodoviários que visam, justamente, abrandá-los, acalmar-lhes o temperamento ao volante e contagiá-los com a saudável serenidade alentejana que muito contribiu para a segurança rodoviária;
  • De uma forma geral, a contenção das invasões sazonais de turistas é, possivelmente, uma das intenções por trás desta concepção genial;
  • Mas o design destas rotundas até considerou os trajectos casa-trabalho, fazendo com que o percurso Odemira-Milfontes (trabalho-casa para a maioria das pessoas) se faça mais depressa e com maior comodidade do que o inverso.
Saber se é correcto chamar-lhes rotundas é uma questão duplamente semântica e topológica. Ou seja, no sentido Norte-Sul são rotundas de facto, já no sentido inverso não o são… o que é muito bem visto - porque se uma coisa tem dois sentidos, e se eles até são contrários, a natureza antagónica da coisa, por deferência à lógica, deverá ser assumida.

Os meus parabéns aos responsáveis por estas rotundas.

PS: Obrigado a "o resto do mundo" pelo estímulo ;)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Entrudo a dançar - Entrudanças 2008

Chegado do Entrudanças, essa fabulosa concentração de dançarinos e músicos, e de toda a espécie de belas e graciosas criaturas, trago-o na cabeça, às voltas, a reboque desta moda alentejana:


Venho da ilha do vidro
p' a praia dos diamantes,
ando no mundo perdido
pelos teus olhos brilhantes


Pelos teus olhos brilhantes
pelo teu rosto de prata,
ter amores não me custa
perdê-los é que me mata
...



sábado, 5 de janeiro de 2008

O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT)

O sistema de gestão territorial, estabelecido pelo Decreto-Lei 380/99 e alterado pelo Decreto-Lei 316/2007, compreende um conjunto complexo de normas legais, e uma diversidade de agentes com diferentes perspectivas, âmbitos de preocupação e interesses muitas vezes divergentes. O PNPOT enquanto cúpula deste sistema tem inevitavelmente de incorporar um elevado nível de abstracção, envolvendo uma grande margem de incerteza. Assim, um documento com orientações tão vastas, dirigidas a todos os instrumentos de gestão territorial (IGT), adquire uma complexidade tal que a forma de o encarar é decisiva para a leitura que dele se faz.

Encarando-o pela perspectiva do copo meio cheio, é de louvar a elevada qualidade técnica do documento tanto no seu conteúdo quanto na sua forma. A estrutura, clareza e legibilidade do Relatório e Plano de Acção revelam um grande exercício de síntese, muito bem conseguido por parte da equipa.
Em termos operativos o PNPOT dá um contributo importante ao sistema de gestão territorial, e aos seus agentes, nos diferentes níveis de actuação, por enquadrar a perspectiva no conjunto nacional, nas relações internacionais com a Europa e o Mundo, assim como no papel das regiões autónomas e das cinco regiões NUTII. Assim, estabelece o quadro de referência para os demais IGT, quadro esse que se pretende estável e operacional.

De acordo com o regime jurídico dos instrumentos de gestão territorial (RJIGT), o PNPOT orienta a elaboração dos Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT) e estabelece as medidas de coordenação dos Planos Sectoriais (PS) com incidência territorial. Com a publicação do PNPOT amplia-se o domínio do controlo de legalidade dos PS e PROT e, nesse aspecto, confere-se maior segurança aos agentes locais relativamente à previsibilidade das acções do Estado Central e das CCDR.

Congratulo-me por Portugal ter finalmente aprovado o plano de topo da hierarquia do RJIGT, decorridos 8 anos da publicação do DL 380/99 e nove da publicação da Lei de Bases (L 48/98).

Do plano-documento ao processo de planeamento - o copo meio vazio:

A eficácia na prossecução dos objectivos apontados pelo PNPOT depende de uma articulação efectiva dos restantes IGT, particularmente dos Planos Sectoriais, mas também da eficácia e eficiência dos Programas de Acção Territorial (PAT) e do QREN. O próprio Relatório alerta para a “dificuldade de articulação entre os principais agentes institucionais, públicos e privados, responsáveis por políticas e intervenções territoriais”[1] sem contudo apontar formas de combater este problema. Os objectivos específicos a atingir no médio e longo prazo são muitos e ambiciosos tornando difícil descortinar prioridades entre um elenco tão vasto. Enunciar objectivos é sempre mais fácil do que prossegui-los e, neste aspecto esperemos que o PNPOT não tenha a mesma sorte que a Estratégia de Lisboa.

Segundo o RJIGT[2] “o PNPOT estabelece os compromissos do Governo em matéria de medidas legislativas...”. Nesse aspecto, infelizmente, a cúpula do sistema de gestão territorial perde a oportunidade de alertar para um problema que mina as suas próprias fundações, concretamente a Lei de Solos[3] e mais precisamente o tratamento das mais valias urbanísticas.
Na realidade, a prática do planeamento e os IGT encobrem um “mercado de transformação de uso do solo” através do qual a administração pública concede fortunas a alguns proprietários, enquanto agrava a sua incapacidade para regular os preços do solo e compromete a sua própria sustentabilidade financeira. Ora, não é legítimo pedir a um cidadão que, em nome de um “bom ordenamento do território”, recuse uma valorização (que pode chegar aos 20 000%) do seu imóvel rústico, por via de uma reclassificação em sede de PDM. Num contexto em que os cidadãos não são financeiramente indiferentes às decisões da administração pública em matéria de ordenamento do território, não só é impossível criar uma cultura cívica que valorize o ordenamento do território[4], como se perpetua a corrupção endémica ao planeamento e à gestão territorial. Compreende-se assim que o problema do ordenamento do território não está nele no mas no planeamento e na gestão.

Neste aspecto o PNPOT assume uma postura de business as usual quando refere factos consumados e evita abordar as suas causas, mas enfim, é o custo do consenso necessário a um documento deste tipo. Caberá à opinião pública pressionar o Governo e a Assembleia da República para cortarem definitivamente o nó górdio que mina o Ordenamento do Território em Portugal, à semelhança do que está a acontecer actualmente em Espanha.

Por fim caberá ao tempo e aos agentes do Planeamento revelar as questões menos bem resolvidas pelo PNPOT, relembrando que o sistema de gestão territorial é elaborado num ciclo iterativo de orientações em cascata e bottom-up.


Bom trabalho a tod@s. Duarte Sobral





[1] Relatório do PNPOT, Capítulo 2, p 86, 24 Problemas para o Ordenamento do Território

[2] Decreto-Lei 316/2007 – art.º 29º, nº. 3, alínea b).

[3] Decreto-Lei n.º 794/76 de 5 de Novembro, alterado pelo Decreto-Lei n.º 313/80 de 19 de Agosto.

[4] A “ausência de uma cultura cívica valorizadora do ordenamento do território” é apontada no Relatório do PNPOT como um dos 24 problemas para o Ordenamento do Território, p 86.


quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A melancolia também se dança

Para os germânicos que conhecí o fado é absolutamente incompreensível.
Até podem gostar das melodias, das harmonias e do som da guitarra portuguesa, mas as letras e os espírito que veiculam... hummm, não percebem.
Diriam - como é possível alguém simpatizar com a tristeza, arriscando a deixar-se caír nela?
Não só não sabem, como têm medo de se deixar embalar pela melancolia. Fogem do fado como os gatos da água.


Na melancolia o português é como peixe na água. E o fado é exorcismo e catarse, como quem escancara as portas do armário, em público, para olhar os esqueletos de frente, numa abordagem de contra-fogo, ou de contra-fado...

E apesar de não ser fado, mas uma balada do Fausto, é a
Rosie quem me exorcisa e transporta ultimamente:

Eu, Rosie, eu se falasse eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.

Mas dancemos; dancemos
Já que temos
A valsa começada

E o Nada

Deve acabar-se também,

Como todas as coisas.

Tu pensas
Nas vantagens imensas
De um par

Que paga sem falar;

Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh...
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une - é estar ausentes.


Dieter Duhm diz que "
Für jede Situation gibt es eine Heilungsmöglichkeit"... eu digo "Ja genau"