Ouvi há uns anos um reputado especialista, numa aula de transportes, dizer que as auto-estradas para o interior, em vez de lá levarem o desenvolvimento, faziam com que as pessoas saíssem mais rapidamente para o litoral. Achei fascinante como, numa curta frase, o catedrático tinha virado o bico ao prego e deitado por terra uma convicção generalizada. Além disso, a ironia do destino dos territórios em processo de despovoamento, processo esse que se vê agravado pelas novas acessibilidades - que durante tanto tempo reclamaram, como forma de gerar desenvolvimento e inverter esta tendência de perda - assombrou-me.
Foi com algum espanto que, numa recente viagem de Odemira para Sines, me deparei com uma série de novas rotundas que desafiaram tudo o que eu achava saber sobre a matéria.
A primeira delas pareceu-me um pouco desviada do eixo da estrada… mas enfim, há contingências compreensíveis, como um sobreiro que não se pode deitar abaixo - pode ter sido isso - pensei. Mas à segunda rotunda nem mexi o guiador, foi vê-la passar à minha esquerda… e aí fez-se luz!!! As rotundas, símbolos do congestionamento automóvel – o que neste país é sinónimo de desenvolvimento – foram feitas à medida de quem viaja para Norte. Recordei imediatamente a frase do professor Viegas e, sem que o conseguisse evitar, imaginei que esta concepção única das rotundas era um presente envenenado das Estradas de Portugal que visava acelerar o despovoamento do concelho.
Depois de muito reflectir confirmei que tudo foi propositado mas, no entanto, abandonei a teoria da conspiração, porque percebi a genialidade por trás desta solução de design heterodoxa, ora vejamos:
Foi com algum espanto que, numa recente viagem de Odemira para Sines, me deparei com uma série de novas rotundas que desafiaram tudo o que eu achava saber sobre a matéria.
A primeira delas pareceu-me um pouco desviada do eixo da estrada… mas enfim, há contingências compreensíveis, como um sobreiro que não se pode deitar abaixo - pode ter sido isso - pensei. Mas à segunda rotunda nem mexi o guiador, foi vê-la passar à minha esquerda… e aí fez-se luz!!! As rotundas, símbolos do congestionamento automóvel – o que neste país é sinónimo de desenvolvimento – foram feitas à medida de quem viaja para Norte. Recordei imediatamente a frase do professor Viegas e, sem que o conseguisse evitar, imaginei que esta concepção única das rotundas era um presente envenenado das Estradas de Portugal que visava acelerar o despovoamento do concelho.
Depois de muito reflectir confirmei que tudo foi propositado mas, no entanto, abandonei a teoria da conspiração, porque percebi a genialidade por trás desta solução de design heterodoxa, ora vejamos:
- Quem viaja ao fim-de-semana para Lisboa sai, naturalmente, apressado na sexta à tarde em direcção a Norte e as rotundas, assim, facilitam-lhe o trajecto… o condutor pode até atravessá-las enquanto escreve um sms a avisar os amigos que está a caminho, e nem dar conta que passou por uma rotunda;
- Já no sentido inverso os citadinos acelerados, que desabam sobre a Zambujeira por alturas do Festival Sudoeste, encontram uma série de obstáculos rodoviários que visam, justamente, abrandá-los, acalmar-lhes o temperamento ao volante e contagiá-los com a saudável serenidade alentejana que muito contribiu para a segurança rodoviária;
- De uma forma geral, a contenção das invasões sazonais de turistas é, possivelmente, uma das intenções por trás desta concepção genial;
- Mas o design destas rotundas até considerou os trajectos casa-trabalho, fazendo com que o percurso Odemira-Milfontes (trabalho-casa para a maioria das pessoas) se faça mais depressa e com maior comodidade do que o inverso.
1 comentário:
;) é um prazer
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